domingo, 11 de setembro de 2011

Fio de pudor e consciência

Finalmente estávamos nós, a sós.
No quarto vazio
Cobertos apenas por um fino pano branco
Sobre o quadril, sob minha imaginação
Eu, apenas nu, de corpo e alma.
Ela me olhando e sorrindo,
Eu sério, como num ritual.
sua pele irradiava cores e perfumes
Densidades e devaneios sem corpo.
Isso, meio que me arrastou o corpo todo.
E quando a minha mente se viu,
Aquelas emanações e texturas, também me dominou.
A timidez dela era diferente da minha,
Beijava eu, seu rosto, acariciava seus braços.
E nossos corpos secos barulhavam uma leve canção ao se atritarem.
Minha boca sufocou seus gemidos,
Que me implorava para possuí-la.
e sentia no rosto a sua respiração perfumosa.
Vezes quente, vezes gelada, ora inexistente.
Persistentes calores em uma noite fria.
E suas mãos arranhavam minhas costelas inquietas...
Basta!

Achados e perdidos

A ideia se depara
Com a consequência.
Um receio bem no meio
De uma intuição incluída no íntimo
E infinito caminho percorrido juntos.
Caminho perfeito,
Caminho infinito.
Olho pra cima e pra baixo,
Esqueço os lados e não o dizem nada.
Está tudo diferente agora:
Como fosse outrora
Que nem sequer havia entendimentos
Busco é razão, emoção para aquela velha chance.
Busco o refúgio descabido nas palavras.
Sequer consigo pensar em novas fábulas
Fórmulas como há 1500 anos atrás.
ou seja: alquimias e centropias
Combate máximo entre razão e orgulho.
Isso é como a liberdade que não quer ser mais real.
Fica confinada em meu eu...
Despetalando rosas sangrentas
Exagerando nas figuras
Nas engrenagens da linguagem:
Tento entender um pouco esse absurdo
Esqueça nada! ou nada esqueça!
Meu coração bate e fica hipnotizado em meu lado.
Enquanto o meu braço é decálogo inclinado e iniciado.
Sob o papel terra negativo-positivo
Da maneira que o meu olho mira
Um céu gris baunilha gritando a tortura
Na estrela da lembrança e da possibilidade
Um vento que também diz verdade
Como um impasse entre os dois:
Sem rumo e sem remorso:
O valor de Ser.
Uma atenção brilhante rumo ao amor

sábado, 10 de setembro de 2011

Cemitério Vazio

É tão fácil ser sombra
Sua cara é tão óbvia
Triste e sorridente,
Verdadeira hiena santa
De cabelos cadentes e
Estampados dentes
Espetados na própria boca
Eu queria ser rouco
Pra poder gritar blues
Com voz de guitarra por aí.
Talvez em um dia excitado,
Eu corte a minha garganta:
É escarnecedor;
E tem gente que o precisa.
Acordar do sonho?
Eu preciso acordar.
É para o sonho,
Ninguém alucinado
Imaginaria o meu pesadelo.
Psicologia aplicada com doses de vozes.
E tons negros-rubros sobre a tela.
Dias na minha cabeça,
Noites nos meus prólogos
Prodígios, pródigos deveras
Mil imagens misturadas
E sem nenhum lugar que
As desenhasse.
O Amor, ainda toca na tumba
Dos meus turnos.
Velho amigo de guerras patológicas...
E histórias amarelas...
E acorda o meu arrepio

a pé , contramão e passo errante

Às vezes fico sem ter o que falar
Pensando longe
Prensado na distância de meu desejo.
Me curvo pesado,
Sentindo a aspereza do caminho
Detenho a voz da minha veia
Me levo sozinho
Entre dois instantes
Que se infinitam.

Minha musa me cala com o seu silêncio
Ando em calos e teias cerebrais.
Custos, dúvidas, astros e escuros
Das minhas cidades sonhadas;
Canto ao vento a minha alegria alegre.
Minha alma solta e batendo barulhenta
Até as últimas horas do possível.

Conquanto, acordo na rua mesmo.
Sob chuva e ignorações,
Perdido por me achar
Por encontrar um olhar
Que não se espelhe em coisas fúteis
Seja inteira fidútia
Astúcia de quem inspira-se.

Tudo isso:
Véu de criatura noturna
Amiga ilusão
Sombra achada no chão ofuscado
Pelas rachadas, turvas vistas
De dia dor, de noite a nuvem.
Só o que pude com a minha pressa febril
Fraco, franco, instampido
Me atirar estupido e sem ponto
Céu natural de linguagem de amor, só isso.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O fusca

Inácio não se calou diante do seu pequeno-grande problema: o fusca.
Estava solto demais, ignoto ao seu eu-profundo, para perder seu tempo com veículo tão velho. Sempre pela manhã,  sonhava com o carro do infrator ao lado, por aonde quer que o fosse, havia algo a ser invejado: semáfaro, vaga no estacionamento etc.
Almejava mais quando olhava pro novo disco de Noel Rosa que ganhara de Noêmia. Empoeirado, à deriva, o disco o olhava com rispidez, ele sem reação, chocado, almejava os carros alheios a si.
Sempre aos sábados levava o rubro fosco fusca à lavagem e polição. Estava certo de que aquele seria o seu triste e inacabável fim: dirigir um fusca na capital do Ceará.
Fortaleza era, sem dúvidas o inferno-paraíso parra Inácio; inferno por conta do trânsito com seu íngreme carro, e paraíso porque tinha sua dona, Noêmia. Com seus cachos volumosos e sedosos: era o seu grande refúgio, a vida ao lado de Noêmia com seu velho cachorro Tupã. Formara enfim, depois de tanto tempo e sofrimento com mazelas amorosas e questões financeiras... Achava enfim, que a felicidade o pertencia: sabia ele que, mesmo com tantas reclamações e reclinações, sua vida fora quase alcançada pelo rubro fusca. Sua vida teria enfim sentido ao lado de Noêmia e Tupã., o velho cachorro manchado pelo tempo.
Às vezes sentia raiva, nos dias ensolarados de domingo, quando Noêmia insistia em ir à praia, somente por conta de um impecílio, o tirava do sério: o fusca. Além do mais, tinha Tupã à fazer-lhe companhia nas quentes e densas areias da praia, enquanto Noêmia bronzeava, Inácio entornava  a sua cerveja sagrada.
Não sabera ele, meu Deus,  que seu único, trágico e grande motivo para intercalar a sua felicidade com Noêmia e Tupã, entre flores e beijos, era o fusca.
Fusca que depois de tanta companhia à Inácio resolvera fundir o motor na avenida principal rodovia que liga Fortaleza à uma pequena cidade que me falha a memória agora: enfim, havia um destroço de fusca e uma ex-vida quase perfeita.
Um velho cachorro e uma curiosa dama de olhos chorosos esperam por um novo dono de família no orfanato mais próximo de sua casa. Enquanto isso, a saudade existe sem fim

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Que bessa: meu assunto se foi atrás de sua sombra.
Te chamo de "tua" por que de mim jamais saíra;
O cerne de nossas carnes trêmulas e quentes ainda estão ali, estáticos. E tu também, figura estatizada em quadros da sala, em molduras do coração.
Saberás enfim, que sempre estarei aqui.Ah! Pífio sou.
Já era: tu sabes sim disso, e isso é o que mais me atormenta porque estou em tuas mãos. Isso sim, é bom: ESTOU. Quanto à ti, não sei sequer aonde estás a não ser em meu assunto.
"O amor vai nos separar. Mas eu não precisava ouvir aquela música desoladora, tão bela e real, aquela rotunda aniquilação da esperança, aquele retrato preto e branco do prazer e do tormento, aquela afirmação da impotência ante um mundo sem respostas que penetrava na minha carne com a mesma ácida certeza com que um bisturi de cirurgião faria, para saber o que eu sabia desde criança, desde sempre: O AMOR DESTROÇA, fere profunda e dolorosamente."
ETXEBARRIA, 1999.

Como ajuntar os cacos?

Como ajuntar os cacos
Dos sonhos desfeitos,
Do amor fantasioso
Que permearam minha adolescência?

Como ajuntar os cacos
Do quado já sem pintura,
Torto embaçado e
Triste na parede?

Como ajuntar os cacos
Da confiança que nunca tive
Do relacionamento desgastado,
Do passo errado.

Como ajuntar os cacos
Da verdade dita
Nua e crua,
Rasgada cruelmente
Tatuada na alma.

Ontem

Sozinho, calado
Num canto de meu leito
Pensava no ocorrido:
No grito, na discussão
Já não me importa quem tem razão.
O fato ocorrido;
O que me cala é a saudade, que sinto de meu marido-amante
Companheiro-amigo.
Ontem me calei,
Senti o seu cheiro no quarto.
Lembrei-me da noite passada
Palco de encenações amorosas
Arrependi do que falei, Realmente estava errado
A saudade que sinto me deixa
Triste e calado.

Inconstante como dente de leão

Quem mesmo disse que a inconstância é o que vale?
Florbela? Drummond? Lispector? García Lorca?
Cecília? Ah sim. Ela mesma.
Nossa queridinha.
Enquanto dita o que será ou o que seria,
Casais se amam e flores murcham.
Meninas choram desgostosas, arruinadas.
Indagam-se às mães, desfalecidas
Em seus aventais...
O quadro empoeirado, com caras
marcadas pelo sofrimento e tempo
Fingindo felicidade
Tortíssimo na parede:
Isso me ajuda a compreender uma estranha realidade;
A felicidade não existe.
Que a tristeza, somente ela, é o que importa e impera.
E a inconstância?
Petrifica os relacionamentos.

Vânia

Chega sorrateira 
Nua e crua.
Quisera eu ter a capacidade sua.


Uma candura estranha
Jeito tímido-ousado de ser.
Ensina minha entranha
Consegue me dar prazer.


Digno Jeito de agir
Constante hábito de ensinar.
Doce como o jeti ou pequi
Forma linda linear.
A dor me anestesiou
O choro me secou
O corte me fechou
A luz voltou
A sede passou
Ainda assim, meu corpo se derrama,
Escorrendo pelo raio do chuveiro
Só uma pedra no chão, ficou
Chamam-na de coração.

domingo, 4 de setembro de 2011

Hoje quando acordei ela não estava mais ao meu lado, não estava com aquela voz manhosa pedindo pra ficar mais um pouquinho, falando pra mim colocar o "penão" em cima dela.
Hoje o dia inteiro, o telefone não tocou, ninguém ligou para saber como foi o meu dia. Ou simplesmente dizer: " eu te amo"...
Ninguém mais comprou o meu doce preferido, ou achou uma camiseta que é a minha cara.
Eu não vou mais à farmácia, embaixo de chuva comprar mais remédios para cólica porque ela não vai mais reclamar de dor.
Ninguém mais vai rir de minhas piadas sem graça. 
Com quem eu vou brigar, quando ela estiver vermelha de raiva, eu vou encher de beijinhos? Ou vai aparecer na minha frente tão linda que eu vou perder as palavras na hora de elogiar? Até que ela vira e fala: "Não vai dizer nada?"
Quando eu for embora, quem vai me pedir pra voltar só pra me abraçar novamente?
Ninguém mais vai mexer em meus cabelos até eu dormir. E aquele cheirinho que ela deixou no travesseiro, com o tempo vai sumir.
Mas ela de dentro de mim nunca mais vai sair, por que hoje somos UM.


Vá com os anjos, 
Vá em paz!!!
É.
Mais uma vez saí com amigos,
Sorri.
Embriaguei-me, diverti
Esqueci meus problemas
Agora
Deitei-me só.
Neste frio travesseiro
E mais uma vez me deparo
Com a solidão...
Os amigos vão embora
A festa acaba...
Enfim,
Não me conformo
Com essa vida
De momentos
Amores mentirosos
Talvez amor de uma só noite.
Sorrisos amarelecidos
Lágrimas verdadeiras, porém.
A lágrima sim é verdadeira.

Cama, mesa e banho

Exausto de chorar deitei-me à deriva de um sono expesso e sem praia,
Como o de Carlos. Procurava na noite de meu coração um espaço literal.
Procurava, enfim, esquecimento.
Mas o que encontrei foi a gelo:
Ao sentir o colchão úmido pela toalha que tu deixara de manhã.
A toalha molhada, que tantas brigas...
A cama que presenciara tantos momentos de amor.
Amor? ou somente paixão?
Como um colchão úmido poderia me proporcionar tanto frio?
Como o meu corpo já não podia aquecê-lo?
Desisto: fraco que sou, vou pro sofá para não morrer de frio.
Prato cheio, coração vazio. Lágrimas entornam.
Desejei que Carlos estivesse ali comigo,
Provavelmente, naquele mesmo momento
Ele estaria acompanhado, longe de mim.



Freedon

O mundo quer inteligência nova,
Sensibilidade nova, O que aí está a apodrecer a vida.
Quando muito é estrume para o futuro.
O que aí está não pode durar:
Porque não é nada.
Eu da raça dos navegadores,
Afirmo que não pode durar!
Eu, da raça dos descobridores,
Desprezo o que seja menos
Que descobrir o mundo novo
Ergo--me diante do sol que desce
E a sombra do meu desprezo
Anoitece em vós.
Proclamo isso bem alto,
Braços erguidos, fitando o Atlântico
E saudando abstratamente o Infinito.
Rezei, pedi, implorei
Para aquele que amo.
O dos longos cabelos,
O cantordante.
Fosse o mais contíguo
E dias a fio percorri.
Sua imagem, seu gosto, suas ideias...
Esperando encontrá-lo,
Ansiando mutualismo,
Chorei, padeci, desmoronei.
Observando o meu padecer,
Forças naturais tiveram pena de mim.
"Assim creio."
E fez do fruto do meu desejo
Correspondente à minha modéstia.
Agora o meu deus é Alcançável.
Meus baixos estão mais longos,
Ou o firmamento veio abaixo?
Então ele me olhou e me viu,
Disse o meu nome e repetiu.
No cotidiano de sua vida,
Lembrou-se de mim.
Ele cortou o cabelo,
Já posso ver seus olhos enfim
E nem sei mais o que sentir.




Sem licença

Quando morri, um anjo feio
Desses que machucam nossos rostos gritou:
Volte pra vida, volte à escravizar-se por amor!
Ofício muito complicado para ANTI amor que sou...
Esse SER que contamina e alastra amor
Esse amor, que alastra e contamina meu SER.
Aceito sim, o que me mandam, sou Amélia.
Nem sou tão bonita para que possa casar.
Sei que não vou casar-me, sou feia.
Acho Floripa linda, ora sim, ora não.
Creio em mãe desnaturada, sei que o sou.
Mas o que me mandam, escrevo,
Cumpro a sina. De Amélia.
Inauguro mandatos e mandados.
Fundo sentimentos e cemitérios, como o de amor pelo ódio, e vice-versa.
-Dor, é gostoso.
Minha vontade não tem quem a faça!
Já minha vontade de morte,
Me é entranhada.
Mulher é Amélia: Eu sou.

Amor feio

Através de meus graves erros
Que talvez um dia poderei os mencionar
Sem me vangloriar, é claro:
Um dia cheguei a Amar, e isso é feio.
Até a mesma glorificação, eu amo o nada!
A consciência de minha permanente queda
Me leva ao amor ao nada.
E dessa queda é que começo a (re)fazer a minha vida.
Com pedras ruins levanto o horror,
E com horror, eu amo.
Não sei o que fazer de mim,
Depois de nascido, somente nascido:
Guardar-me em sentimentos feios.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

summer night

Hoje resumindo à mim
Tive a conclusão:
Ser eu mesmo independente dos cigarros que fumo.

O verde do meu muro
Não é o verde de seus olhos:
Crise de abstinência.
Ausência de corpo
Petrificação em meu coração.

A lua andrógena
Vaga nos céus.
Seria ela, o mesmo eu na terra?
Com apenas uma diferença:
Ela é amada, eu, amaDOR.

Neste canto austero tricotando
Nessas linhas, lacremejo em alma
Sinto-me resumido em relação ao acontecido.
Mistérios? Farei-o melhor.
Promessas? Ai...