quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

“A última etapa do Édipo, a ‘castração’, pode dar uma ideia disso [da imagem fantasmática de todo Direito]. Quando o menino vive e resolve a situação trágica e benéfica da castração, ele aceita não ter o mesmo Direito (falo) que seu pai, e, particularmente, não ter o Direito de seu pai sobre sua mãe, que se revela então dotada do estatuto intolerável do duplo papel, mãe para o menino, mulher para o pai; mas, assumindo o fato de não ter o mesmo direito que seu pai, ele ganha, com isso, a segurança de vir a ter um dia, mais tarde, quando se tiver tornado adulto, o direito que agora lhe é recusado, por falta de ‘meios’. Ele tem apenas um direitozinho, que se tornará grande se ele próprio souber crescer, ‘tomando sua sopa todinha’. Quando, por seu lado, a menina vive e assume a situação trágica e benéfica da castração, ela aceita não ter o mesmo direito que sua mãe, aceita então duplamente não ter o mesmo direito (falo) que seu pai, uma vez que sua mãe não o tem (nada de falo), embora mulher, porque mulher, e ela aceita, ao mesmo tempo, não ter o mesmo direito que sua mãe, ou seja, não ser ainda uma mulher, como o é sua mãe. Mas ela ganha, em compensação, seu direitozinho: o de mocinha, e as promessas de um grande direito, direito inteiro de mulher, quando ela se tiver tornado adulta, se souber crescer, aceitando a Lei da Ordem humana, ou seja, submetendo-se a ela, se for necessário para a violar -, não tomando sua sopa ‘todinha’” (ALTHUSSER, 1976:68).

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

"Amigo mal vestido
Um copo de bebida
Barba mal feita
Oportunidade cedida
Sinal mal captado
Vontade atendida
Mal amanheceu
Chamada perdida
Mal começou
Já é despedida."

Roubado

Você assim com barba, todo lindo...
me enlaça, me rende, me vence, me prende a você.
Gosto de tocar, gosto de acarinhar e sentir
A textura, a doçura, a delícia que é você.
Não precisa mais falar, eu só quero é estar
No tom, na melodia, no ritmo, no embalo do momento, 
Meu momento com você.
Me beija.
E me deixa espetar a face
na tua masculinidade.
No teu cheiro de pêlo que exala,
que confunde a toda hora
o meu eu com o teu.
Enquanto enlaça o meu corpo, 
eu me deixo levar...
agora fecha esta porta,
bate-a com os pés
e deixa as mãos livres para mim,
que as minhas te acariçiam a barba
enquanto sou tua, apenas tua...

Fernanda de Salles Andrade
Apaixonante
E com nada posso comparar
O que sinto 
Quando encosta em mim
De leve 
Ou com toda força do mundo
Essa coisa maravilhosa
Não consigo mais pensar
Em nada
Porque pensar faz desistir

E desistir não quero
Apenas
Te quero, Barba.

Patrícia Hott

domingo, 11 de novembro de 2012

Tem café na minha gramática

Tem café na minha gramática
Sempre fui meio desastrado
Sem querer os fonemas se queimaram
e a sintaxe está amarga

Tem café em minha gramática
Coitado dos advérbios e verbos
a morfologia já não é a mesma
Isso prejudicaria minha semântica?

Tem café na minha gramática
ora leio substantivo, ora leio adjuntos
onde estão os complementos nominais?

Tem café em minha gramática e não é bobagem
Pulo às últimas páginas
E vou me perder nas figuras de linguagem.

(Renato Dering) #interno
A minha cática não tem grafé
Com a fé estática na estrutura,
E a semântica, ó madre'scura,
Prende a sintaxe feita pelo pé.

A minha cática não tem grafé,
Se vão quisé conto-lhe o feito,
Que mal forma no seu direito
O que já não finge, mas tenta e qué.

A minha cática não tem grafé,
Classes, vícios e a elisão,
Da aqui não saem, da aqui não se vão,

Da minha cática, do meu grafé,
Que ainda longe, na perdição,
Insiste em ser o que ela é...




Por Lucca Tartaglia.

domingo, 7 de outubro de 2012

E Morfeu se aproxima lentamente ao meu leito vazio. Alegrei-me em saber de sua vinda, hoje pedi tanto que ele viesse, em minhas orações. Enfim é dado o momento. E estou pronto ou pelo menos quase pronto. É o advento de uma nova vida. É o regozijo do ser adentrado no âmago.

domingo, 12 de agosto de 2012

O médico perguntou: — O que sentes?


E eu respondi: — Sinto lonjuras, doutor. Sofro de distâncias.

terça-feira, 24 de julho de 2012

De outro BLOG


A primeira vez que nos vimos uma harpa tocou. Não foram sinos, como sentenciam os escritores românticos. Foram harpas!
Uma estrela cadente cortou o céu, embora fosse dia. Em dez segundos eu disse para mim mesma: Eu o amo. Esse é o cara que vai mastigar a minha alma. Estou fodida. Eu o amo!
Uma menina de 15 anos gritava dentro do meu peito, correndo entre as artérias com uma rede de caçar borboletas. As borboletas tinham pernas e também corriam, e eu sentia que aqui dentro era um quadro do Dali ou filme do Tim Burton porque agora havia você.
A menina, as borboletas, meu sangue... Tudo corria na sua direção, embora eu estivesse parada.
Botões de rosa brotavam das minhas mãos e eu as colocava para trás numa tentativa desesperada de não deixar os espinhos à mostra.
Tudo isso num piscar de olhos, na primeira vez que nos vimos.
O som das pessoas em volta ficou baixinho e eu só ouvia a harpa.
Meu coração não batia freneticamente como era de se esperar. Não. Ele parou. Ficou paradinho enquanto menina e borboletas buscavam desenfreadamente por você.
Aí você se aproximou, beijou minha bochecha e fomos tomar um café. E eu nunca te contei que nos dez primeiros segundos que te vi, eu já era mais sua do que jamais fui minha.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Clarisse, L. Urbana

Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado
Quem diz que me entende nunca quis saber
Aquele menino foi internado numa clínica
Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças
Dos sonhos que se configuram tristes e inertes
Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha.
E Clarisse está trancada no banheiro
E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete
Deitada no canto, seus tornozelos sangram
E a dor é menor do que parece
Quando ela se corta ela se esquece
Que é impossível ter da vida calma e força
Viver em dor, o que ninguém entende
Tentar ser forte a todo e cada amanhecer.
Uma de suas amigas já se foi
Quando mais uma ocorrência policial
Ninguém entende, não me olhe assim
Com este semblante de bom-samaritano
Cumprindo o seu dever, como se eu fosse doente
Como se toda essa dor fosse diferente, ou inexistente
Nada existe pra mim, não tente
Você não sabe e não entende
E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito
Clarisse sabe que a loucura está presente
E sente a essência estranha do que é a morte
Mas esse vazio ela conhece muito bem
De quando em quando é um novo tratamento
Mas o mundo continua sempre o mesmo
O medo de voltar pra casa à noite
Os homens que se esfregam nojentos
No caminho de ida e volta da escola
A falta de esperança e o tormento
De saber que nada é justo e pouco é certo
E que estamos destruindo o futuro
E que a maldade anda sempre aqui por perto
A violência e a injustiça que existe
Contra todas as meninas e mulheres
Um mundo onde a verdade é o avesso
E a alegria já não tem mais endereço
Clarisse está trancada no seu quarto
Com seus discos e seus livros, seu cansaço
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
Mas um dia eu consigo existir e vou voar pelo caminho mais bonito
Clarisse só tem 14 anos...

domingo, 22 de abril de 2012

Sobre como não perder um amor...


Você pode estar segura de que está fazendo o melhor para você, se protegendo de todas as formas de afeto sincero e verdadeiro; Isso porque um dia alguém te machucou e apensar de você ter superado, o fantasma da decepção permaneceu ao seu lado lhe fazendo companhia. Você não pode suportar nem admitir que mais uma vez se apaixonou, então passa a machucar seus próprios sentimentos para que mesmo feliz você possa lembrar que em algum momento você já se apaixonou e sofreu, passa a querer ignorar e abafar um sentimento que você sente mais tem medo de admitir, tem medo de sentir, medo de se entregar.
Daí você passa a fazer tudo errado achando que está certo, não se entrega por inteiro, não ama por inteiro, não deixa que te amem, não se permite sonhar, não se permite acreditar de novo no amor. Pensa que assim não poderá sofrer de novo porque o seu coração ninguém mais machuca, já o partiram tantas vezes que virou pó. Ninguém tem o direito de amar você, nem mesmo você se gosta ou se respeita o suficiente para admitir seus verdadeiros sentimentos. É ir dormir as 2:00 da madrugada para estar com tanto sono que não pode pensar mais em nada, porque não suporta pensar que alguém pode te amar, amar de verdade.
Você deixa sua felicidade ir embora a cada lágrima, a cada sorriso contido, a cada beijo não dado, a cada Eu te amo que você não conseguiu dizer.
Depois de fazer todas essas bobagens e de se proteger do melhor da vida, você consegue finalmente machucar quem só queria te fazer feliz novamente, aí a ficha cai, uma nova estação chega e você percebe todo tempo que perdeu em não querer ser feliz .

Afinação da arte de chutar tampinhas

"Há algum tempo venho afinando certa mania.
 Nos começos chutava tudo que achava.
A vontade era chutar. 
Um pedaço de papel, uma ponta de cigarro, outro pedaço de papel.
Qualquer mancha na calçada me fazia vir trabalhando o arremesso com os pés. 
Depois não eram mais papéis, rolhas, caixas de fósforos. 
Não sei quando começou em mim o gosto sutil. 
Somente sei que começou. 
E vou tratando de trabalhá-lo, valorizando a simplicidade dos movimentos, beleza que procuro tirar dos pormenores mais corriqueiros da minha arte se afinando."

 João Antônio

Meu funeral

Antes, só queria estar. 
Hoje, estar já não é mais tão prazeroso.
Para haver o suprir de necessidades, é necessário ficar: e dentro um do outro, 
acasalados e de conchinha.
Caso contrário, pode ir. Eu deixo.
Chorar, todo mundo chora e não serei tão covarde a ponto de dizer que não quero sofrer, 
porque o quero no mais alto frenesi da dor, para aprender.
No fim, só o que vale é o aprendizado mesmo...



quinta-feira, 5 de abril de 2012

Assim, mais ou menos


Sou como um livro,
Há quem me interprete pela capa. 
Há quem me ame apenas por ela. 
Há quem viaje em mim. 
Há quem viaje comigo. 
Há quem não me entende. 
Há quem nunca tentou. 
Há quem sempre quis ler-me. 
Há quem nunca se interessou. 
Há quem leu e não gostou. 
Há quem leu e se apaixonou. 
Há quem apenas busca em mim palavras de consolo. 
Há quem só perceba teoria e objetividade. 
Mas, tal como um livro, sempre trago algo de bom em mim. 

quarta-feira, 4 de abril de 2012


Fico frágil perto de você, abobado. Você faz uma cara apaixonante e não entende o porquê de ser merecedor do meu amor e da minha fragilidade idiota e do medo de perdê-lo. Você diz que eu sou louca por gostar tanto de você e eu realmente não entendo de onde você tira tanta insegurança. Mesmo eu sendo a maior insegura da relação. Não entendo como você não vê que é a melhor coisa que me aconteceu e quando eu te digo isso, você ri e quer me abraçar, quer me segurar para que eu nunca tenha que ir embora, mas eu não vou embora, amor. Eu fico se você ficar, eu amo se você for merecedor desse amor e me apego às nossas pequenezas. Eu prometo ficar, até o dia em que você for forte o suficiente para ficar também. Prometo amor, prometo estar ao seu lado e lhe segurar para não desabar assim como seu mundo. Eu estou ao seu lado, quero ser seu ponto de paz. Deixe-me lhe dar paz, quero mostrar-lhe que posso ser a pessoa certa para você. Deixe com que eu me sinta envolvida pelos seus braços em um dia frio de inverno, deixe que eu lhe molhe enquanto molhamos as plantas da casa de sua mãe. Me deixe aproveitar. Aproveitar você, aproveitar nosso amor, deixe-me estar com você. Não peço para estar com você por pouco tempo meu querido, peço por uma vida. Uma vida inteira. Uma vida de encontros e desencontros, mas que em todos eles terminem em pizza. Pizza com você. Tanto faz, desde que nós nos encontremos no final dessa tão louca e apaixonante história. Fique, e eu farei o mesmo. Por favor, acredite nas palavras da tua pequena poeta e fique. Sabes que eu sou frágil e se esconde atrás dessa máscara de tristeza e fragilidade. Ambos sabemos que você não é assim, meu querido. Eu sei porque já entrei nessa tua fortaleza, sei quem é você. Sei teus gostos e desgostos, amores e desamores, sei cada detalhe e cada qualidade. Me apaixonei pelos detalhes. É clichê, mas é a verdade. A verdade talvez seja um pouco clichê, mas a verdade é que eu te amo. Amei ontem, amo hoje e amarei amanhã. Até que a morte nos separe.

sábado, 31 de março de 2012

Né?

A enganosa graça vagarosa
Faz com que minha vida fique viçosa.
De amores descontentes, 
De pessoas indecentes...
Vou assim levando.
Enquanto isso, escovo os meus dentes, 
Ouço Da Mata.
Tudo isso me engrandece e 
Me faz sentir "O legalz"
Nojo dessa corja.
Pessoas sem endereço.
Cavalos sem cabrestos.
Lamúrias lamentadas.
Luxúrias inexatas.
Cama sem colchão.
Masa sem pão.
Vaso sem flor.
Flores sem terra.
Amores em espera.
Tudo isso?
Uma quimera.

sábado, 24 de março de 2012

C'est moi

Hoje aprendi que a beleza não existe.
Existe maneiras de olhar.
Bons, maus, olhos à mercê.
Incautos: olhos, pupilas. Pálpebras.
Vejo hoje como não via ontem...
Isso é bom.
Mas, existe um troço qualquer,
Sei lá o significado.
Acho que chama-se CONSCIÊNCIA.
Não mais vejo você.
Não vejo mais você com aquele olhar galante.
Não te quero mal, mas não te quero mais.
O coração quando examina a possibilidade, 
Do que há de vir...
As proporções dos acontecimentos,
E a cópia deles.
Fica robusto e disposto e o mal fica menor.
Também se não fica, 
Não ficará nunca.

terça-feira, 20 de março de 2012

O GRITO


ECOA DAS PROFUNDEZAS
VINDAS DE DENTRO DE MIM
UMA VOZ PERDIDA
NA IMENSIDÃO DAS TREVAS

A DESESPERANÇA ME ENFRAQUECE
E A MINHA DOR AUMENTA A CADA NOITE
NÃO SEI SE VIVEREI ATÉ AMANHÃ
PRA SABER COMO NASCERÁ O DIA

A CALÇADA AINDA ESTÁ MOLHADA
FRIA E COM FOLHAS SECAS
SEMENHANTE A UM ROSTO
QUE CHOROU E GRITOU POR SOCORRO

GRITEI
MAS A PESSOA QUE EU CHAMEI O NOME
NUNCA RESPONDEU
AO MEU CHAMADO ...
 

sexta-feira, 16 de março de 2012

Sua inteligência me é afrodisíaca.
Me faz repetir repetidas palavras;
Seu olhos de gatinho, como já dizia Cecília.
Olhos de quem chora, de criança chorosa.
Sua voz de seda sedosa, me transtorna, me causa arrepios,
Voz que ouço até de ouvidos tapados.
Seu corpinho esguio, magrinho, jeito de dar dó.
Mas é forte em atitudes e em palavras também o és.
No sexo? Não o sei. Ele virgem eu de leão.
Nasci bem no meio de agosto.
Quando eu for gente de verdade, quero me casar,
Mas só se for com olhinhos chorosos.
Vejo nele uma beleza que os outros talvez não veem.
Sinto a inveja das flores sobre ele, quando passa.
Até suas armações me intrigam.
Seu gosto faro-fino, gosta de azul-claro.
Gosta de ser quietinho. Tem jeito de ser crente.
Tem Candura.
Sim, ele tem candura e isso não é somente um adjetivo.
É um estado de espírito.
Jeito de menino, corpo de homem na alfa idade.
Usa aliança, sem compromissos.
Sem ser casado...
Chega: estou com náusea de tanto mel no papel...
Assim, paro no céu com todo o meu fel.

Pois é

O mundo quer inteligência nova
Sensibilidade nova.
O que aí está a apodrecer na vida.
Quando muito é estrume para o futuro
O que aí está não pode durar,
Porque não é nada.
Eu, da raça dos selvagens navegadores
Afirmo que não pode durar.
Eu da raça dos descobridores,
Desprezo o que seja menos
Do que descobrir o mundo novo.
Ergo-me ante o sol que desce
E a sombra do meu desprezo
Anoitece em vós.
Proclamo isso bem alto,
Braços esguios, erguidos, fitando o Atlântico.
E saudando abstratamente o INFINITO.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Mantra de gratidão


Entre o corredor e o quarto:
Entre a porta do quarto e a cama:
Entre deitar na cama e segurar sua patinha:
Entre as memórias de doze anos de companhia - entre cada uma delas, no intervalo entre uma cena e outra desde a gaiolinha de filhotes:
Entre os telefonemas aos veterinários e as seringas que esguicham água de côco na sua boquinha por mais que você odeie isso - eu sei, eu sei:
Entre limpar suas feridinhas e ajeitar o cobertor:
Entre cada pensamento e o próximo:
Entre cada palavra de cada pensamento, exatamente no espaço em branco entre elas:
Entre cada duas letras de cada palavra antes mesmo que ela se forme:
No vácuo em branco dentro de cada letra quando elas se fecham como um pê ou um quê ou até mesmo que só tenham uma abertura para baixo como um agá por exemplo:
Entre agora e o inimaginável depois da eutanásia de hoje à noite quando você tiver partido para o paraíso dos gatinhos onde chovem sardinhas todos os dias e voam insetos que você tenta apanhar numa nuvem de luz onde nada mais vai ser menos que maravilhoso ou provocar miadinhos de insatisfação nem reclamações com os olhos arregalados e só vão murmurar para você com a boca apertando um eme as músicas que você gosta enquanto ouvem sua barriguinha roncar nos momentos de descanso agora e para sempre repetindo a palavra até que ela perca o significado e me assuste tentando recuperar o que é isso o que foi isso o que será isso ou será que isso existe exatamente assim como eu sonharia que existisse num outro tempo se a gente não precisasse morrer nunca:
Amor.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Perdão Você

Não me ensina a morrer.
Eu não quero a diferença abstinente
No prosseguir da gente...
Sei que a tendência e os tendenciosos
Andam como a peste.
No decidir da mente
É como se perder de deus.
E isso, eu não quero.
Eu não quero me preder,
Eu não quero te perder
Perdão.



Marisa Monte.

Síncope do Ser

Sendo o pior dos piores,
defini o padrões do sentido SER.
Ah, quero mudar de assunto.
Começando:
Sou o pior dos piores
Não que eu queira mas é consequência de Escolhas.
Sim. De minhas escolhas.
O que escolhi ser.
Não faço, não sou, não quero NADA.
Passo horas e horas a fio. Estático.
Petrificado.
Hoje minha consciência pesa!
Julgam-me bom.
Que nada. Não o sou.
Não quero ser o bonzinho...
Sempre fui assim: sempre preferi as personagens vilãs.
Seja em desenhos, novelas, filmes...Enfim. É o que sou.


Não gosto de pensar nos outros:
Assumo sempre a culpa;
Quero amor sem sofrimentos.
Grana, sem esforço.
Não me julgue pelo meu caráter, pobre leitor.
Tem as considerações de meus atos.
Estou aqui só pra dizer o que todos pensam.
E isso logo vai passar. O cargo é pesado.
Tento exorcizar o bonzinho que se reflete no espelho.
Pena. Ele não existe: é fruto de uma síncope.

Me, mim, comigo

Emociono-me por ser assim.
não sou o que querem que eu seja,
Inspiro somente na boemia:
Ela sim, me agrada demais.
De quando em quando
É o meu novo tratamento...
Acho isso uma bobagem,
Antidepressivos não fazem mais efeitos sobre mim.
E hoje? Resolvi mudar
Matar aquele medíocre egoísta
Insano libertino!
Mas, ele não vai assim tão fácil...

Tenho licença poética
Cedida por mim mesmo.
Gosto disso: mudarei um dia, talvez...

Contudo, me apresento ser o melhor, sendo o pior.
Quero morrer estando  vivo.
Quero dormir acordado.
Dê-me uma comparação exata do que sou.
Afinal, nem eu mesmo o sei.
Quem descobrir, poderá me acompanhar
Por longo tempo...
Até que eu canse de sua presença. Sim, sou um pífio sou.
Já o disse: não tenho pena,
Alimento meu ego, e o machado me feriu.

Sempre tento me esconder
Atrás de mim mesmo
Não sei como: não me pergunte.

As vezes tenho vergonha...
Depois, compaixão.
Ora até com orgulho dos meus atos.

Sei amar...
Estou pensando em você no momento.
E quando vem o silêncio, fumo "unzinho"...

Choro como uma criança: porque tenho medo.
Fujo, corro, assim... De mim mesmo.

Adoro seu olhar.
Seus cabelos...


sábado, 11 de fevereiro de 2012

CARTA À GENTE A PLENOS PULMÕES



O governo que rege a vil lâmina
Seu tempo e neste seu povo
Aflige a língua deste e lhe cala as lâmpadas
Enquanto planta cálculos renais contra a confiança
E supura a crença de trabalhadora a trabalhador
Nisto mínimo de caminhar a motor do próprio suor

Ele governo galga patas por cima da história das vidas
Mutilando garantias para obnubilar conquistas
Converte casas em caixões como
Demônios pisando pétalas para colecionar carcaças de caules
Mas o governante se vai
E se esvai e ao partir será mastigado
Pelas pálpebras do povo
E depois cuspido como carrapato vivo
Até ser enterrado no olvido

A confiança e a crença de quem trabalha foi quebrada agora
Então faz trevas nos pratos dos filhos do povo
Que geme sem esperança de cura cada criança
E o governante arranca de todos o que resta de carne
Para expor em vitrines de açougues
A preço jamais módico porque baixo

Qual a voz mal-movida na língua
Destes que somos golpeados pelas costas
A faca bigume cravejada de carrapichos
E forjada e manobrada de caso pensado
Pela mentira e pela traição e pala insânia?
Insano o governante aterra os corpos que trabalham
E se forem de quem lê e leciona
Mais ainda ele vitima
Sem remorso e armado de cães até os ossos

Traidor o governante debita a vida de quem vota
Em uísque e terno e piscina
Mas já mentia desde a primeira hora
De palanque e santinhos que sujaram as ruas
E mesmo marcado pela mentira e perigoso
Segue a periclitar os mais mínimos bolsos

Ofendidos rebitados em armazéns de gente
Gente é para brilhar e a plenos pulmões
Rasguem-se das prateleiras
Arregimentem poesia e grito
Com a imponência de um deus quando marcha porque sabe que é invencível
Sua pátria é o território de seu trabalho
E nela se deposita o cuidado de família e brio
Então este que aí atravanca seu caminho
Merece pelo pescoço pagar o pato a pejado preço

Se lhes dizem que latem
E são da mesma natureza de sua carne
É porque são covardes de cara desaclarada
Escondem-se lambendo os bagos do dono
Mas sabem pedir as mais falsas desculpas e até engrossar suas fileiras
Se a balança mudar de lado

Lembrar-se de não se esquecer é o monumento mais material de um povo
E escrevi este poema com artroses de dores e minado de mágoa
De mim próprio professor assistindo a professores
Naufragados por um déspota
Mas agora que vértebra a vértebra ergo esta voz neste escrito
Já digo que professora a professor entre si tecidos
Arquitetam e engenham e forjam tal nau que
Pulsa e se propulsa contra mares em procela e cala
Até as Trombetas do Apocalipse.

Por Acreditar


Não é porque questionam o amor que ele seja duvidoso; 
Não é porque sorrimos que não queiramos chorar;
Não é porque sofremos que não podemos sorrir;
E nem por devaneio que eu não possa a esperar.

Não é porque gritamos que não queiramos o silêncio;
Não é porque são flores que não tenham espinhos;
Não é porque fugimos que não queiramos a luta;
E nem porque lutamos que não queiramos carinho.

Não é porque está frio que eu queira me aquecer;
Não é porque estou preso que eu deva me soltar;
Não é porque nos calamos que não queiramos dizer algo;
E nem porque me basta que eu não possa me importar.

Não é porque estou limpo que eu não deva me sujar;
Não é porque questiono que eu não saiba o que sinto ;
Não é porque não sou que um dia eu não seja ;
E nem toda verdade esconderá o quanto minto.

Que seja um dia por voz do destino;
Que seja como aprender a amar.
Mas que não seja por falta de fé;
E que não seja porque tive azar;
E talvez seja porque apenas é;
Que seja sempre por acreditar.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Só tenho medo de acordar amanhã pela manhã e perceber que tudo o que me resta é a agonia de tentar te esquecer e não conseguir. Tenho medo de fechar os olhos para dormir e sentir essa sua força esmagadora me obrigando a repensá-lo e vivê-lo. E eis que Orpheu me rouba a luz e me entrega a você: sonho cada parte do seu corpo, rememoro cada instante de seu riso maroto, moleque e indeciso. Embalo meus sonhos e me entrego aos devaneios inconscientes. Acordo. Agora, sensato revisto-me da amargura e dor de outrora, para olhar-te e negar sobretudo a mim mesmo que dentro deste peito bate um coração que te ama.
Acorda coragem em si!
Acolhe a verdade
Acode a saudade e se alcança...
Além!

Semear o amor!

(O teatro Mágico)

sábado, 28 de janeiro de 2012

Sonheto

Estranha criatura
Brilha no escuro da escuridão
Dança com a minha razão
Enlouquece o meu insensato querer.

Estranha de céu, 
E silêncio na multidão
O que faço pra te ver real
Sem sombra iluminada.

Sem outros olhos te refletindo
Sonhos de você
Volições e motivos?

Sempre olho pra ti
Tamanha estátua encerrada
E vejo:
Olhais para a frente, para o nada.

A infinitude está nos meus olhos, e eles te refletem...
Me soluçava:
-Por favor.
Por favor...
E cochichei:
-Eu te amo!
E bocejamos juntos.
O tédio remédio,
E dormimos...
Sem receios e finitos.
Sonhamos sonhos repletos
Cheios de nada.
Cheios de nós mesmo...

A semelhança é a última que corre

Cheirinho bom de mato morto...
Desdobro as palavras e as enrolo de novo,
Meu impasse se dilatando...
Uma chuva torrencial tira um pouco dessa palidez.
Uma história amarela em um dia anêmico.
Jogos de amor jogados à cena,
Inversão suprema e surpresa
Jogadas às avessas.
No céu de enxofres e pedaços,
Cores da noite surrupiadas do real.
Tinta amarela, pessoas amarelas...
Situações desconsertantes, tudo é um vasto xarope.
Remédio para todo o amargo...
Seriados e feriados de realidade.
Como agora cuscuz requentado ao leite...
Sabe, eu bebo vinho barato.
Acho que só quero dizer que
Sempre aparece semelhança
Na estranheza...